Tuesday, December 30, 2008

...


Porque às vezes nos sentimos como a voz do Antony Hegarty, porque é simultaneamente belo e triste, porque esses opostos nos enchem de uma esperança inexplicável no futuro do Homem, porque nos faz flutuar e regressar à posição fetal, por tudo isto e por tudo o resto, aqui fica um video feito especialmente pelos Antony& The Johnsons para a Prada. Que o fogo de artifício de amanhã seja assim, simultaneamente belo, triste e cheio de esperança.

Happy 2009!

Saturday, December 6, 2008

I Want To Believe


Grande parte daquilo que fazemos é baseado em fé. Não necessariamente no sentido religioso da palavra mas noutro, mais mundano e menos dogmático, que faz com que a vida ganhe dimensão. Sabemos pouco, temos certeza de menos ainda. Mas acreditamos e por isso vivemos, amamos, defendemos pontos de vista e valores que nos são preciosos, apenas pela simples razão que são nossos e os sentimos a bater no peito. 
Gosto de acreditar. Não necessariamente em homenzinhos verdes ( e daí, porque não?). Acreditar simplesmente. 


Sunday, November 9, 2008

Blindness

Uma epidemia de cegueira branca toma conta de uma cidade. Uma pessoa contamina a outra, em efeito dominó. A cidade pode ser uma qualquer grande metrópole, as pessoas podem ser quaisquer umas com quem nos tenhamos cruzado no metro. Podem ser o nosso melhor amigo ou um estranho que dorme na rua.

Em “Ensaio sobre a cegueira” tudo é assim: uma tela branca que serve de palco para a natureza humana. Embora seja considerado um cínico, Saramago é, nesta história, um autor isento. Coloca todas as personagens ao mesmo nível, sem quaisquer pré-definições de bem ou mal. Um "homem", uma "mulher de óculos escuros", uma "criança". Todas as personagens são descritas assim, sem nomes. Só existem factos banais e funções como "médico" ou "rei da camarata três". Até palavras como "ladrão" não acarretam julgamentos, são apenas descrições. São as próprias personagens que mancham a tela com as suas acções, provando que somos todos iguais, primitivamente violentos. Provando que talvez Saramago tenha razão na sua falta de fé na natureza humana. Mostrando que existe algo de profundamente assustador e belo nessa igualdade.

Quando os infectados pela cegueira são colocados em quarentena e retirados do seu “eu” civilizado, revelam a essência primitiva. Os grupos de camaratas diferentes tornam-se inimigos, começam os abusos de poder, as violações. As tentativas de "democracia" da personagem de Mark Ruffalo parecem patéticas, especialmente comparadas com o seu comportamento pouco recomendável. Quem é ele para julgar ou ditar? O asqueroso “rei da camarata três”, Gael Garcia Bernal, parece fazer mais sentido na sua falta de escrúpulos. Pelo menos soa a verdade no meio do caos.

Julianne Moore é a "mulher do médico". Ela é a única que consegue ver, tornando-se mãe, enfermeira, protectora, guerreira que faz das fraquezas forças. Uma espécie de hipérbole para o ser mulher que toma conta deste grupo.

O ditado diz que “ em terra de cegos, quem tem um olho é rei”. Neste caso, ela é uma "rainha" condenada a assistir à podridão humana de olhos bem abertos. Esta "cegueira" de Saramago é sobre o poder da visão. Sobre o poder esmagador da visão quando realmente vemos e não nos limitamos a olhar.

O que se passa dentro do asilo é apenas um micro-cosmos para a nossa realidade diária. Qualquer noticiário está cheio de histórias semelhantes. A personagem de Julianne Moore representa aquilo que aconteceria se de facto não pudéssemos desviar os olhos e ignorar. Se as constantes violações do corpo e da alma não se tornassem banais porque são frequentes.


Se todos sairmos desta "cegueira branca" como ela, a lutar com unhas e dentes pelas réstias de afecto e toque, então a esperança vive no fundo da caixa de Pandora. O preço por encarar o mundo em toda a sua dura complexidade é alto e muitas vezes desejamos estar cegos. Mas é esse frente a frente que torna o nosso amor por esse mesmo mundo ainda mais belo. Porque é um amor que está para além da beleza, que nasce nas entranhas fedorentas da Humanidade. Não precisamos de mergulhar nelas todos os dias mas "molhar os pés" de vez em quando intensifica tudo o resto. A beleza é mais rica quando é feita de sombras que lhe esculpem os contornos. Se elas não existirem, é apenas uma superfície lisa que não podemos abraçar.

Sunday, October 26, 2008

Mamma Mia

É um grande filme? Não, but who cares? Não foi feito para ser um grande filme, foi feito para ser divertido, para nos fazer ter vontade de saltar para cima da cadeira e cantar. E dá mesmo vontade de cantar todas as músicas a plenos pulmões. Deviam distribuir microfones à entrada. 
Se até Stellan Sarsgard, o actor fetiche do "cortador de pulsos" Lars Von Trier, canta em Mamma Mia, porque é que nós ficaríamos calados???

É uma grande interpretação de Meryl Streep? Não, há outras muito melhores. Mas não há nada que ela não consiga fazer bem e, acima de tudo, com um gozo de fazer inveja. Mamma Mia é mais uma prova de que esta grande senhora não se leva demasiado a sério, independentemente do número de Óscares que tem em casa. E pode fazer figura de parva a cantar o Dancing Queen, cheirar linhas de coca em " Adaptation", de Spike Jonze, ter uma quinta em África ou ser uma dona de casa frustada. Tudo cabe em Meryl Streep. Os ícones deveriam ser todos assim: ser respeitada sem ter que ter cara de cú, sem ter que usar sempre o vestido mais bonito da festa. Ser respeitada por ser autêntica e por rir de si própria. Por estar sempre em constante evolução e nada ser demasiado pequeno para nos interessar. 

Vão ver, cantem muito e saiam do cinema renovados. Só um conselho: baixem o volume quando o Pierce Brosnan cantar... o senhor pode ser charmoso como Thomas Crown mas tem voz de cana rachada a atirar para o pato. 


                          

My my, at waterloo napoleon did surrender
Oh yeah, and I have met my destiny in quite a similar way
The history book on the shelf
Is always repeating itself
Waterloo - I was defeated, you won the war
Waterloo - promise to love you for ever more
Waterloo - couldn’t escape if I wanted to
Waterloo - knowing my fate is to be with you
Waterloo - finally facing my waterloo

                          

We can go dancing, we can go walking, as long as we’re together
Listen to some music, maybe just talking, get to know you better
’cos you know I’ve got
So much that I wanna do, when I dream I’m alone with you
It’s magic
You want me to leave it there, afraid of a love affair
But I think you know
That I can’t let go

If you change your mind, I’m the first in line
Honey I’m still free
Take a chance on me
If you need me, let me know, gonna be around
If you’ve got no place to go, if you’re feeling down
If you’re all alone when the pretty birds have flown
Honey I’m still free
Take a chance on me
Gonna do my very best and it ain’t no lie
If you put me to the test, if you let me try



Boa semana!


Sunday, September 28, 2008

Bolas de naftalina

Parecia saída de um guarda-fatos de Narnia, cheia de colares de pérolas, rendas pretas e casacos de peles. Aparecia sempre de surpresa, cansada e vagamente perdida no tempo, como se tivesse vindo numa perignação de doces e histórias tristes. Os doces vinham na mala preta de lantejoulas, reminiscente dos anos 20. As histórias, essas, vinham nos olhos azuis, líquidos e transparentes como água. Eram levemente cinzentos como um mar que já viu muitas tempestades.

Lembro-me de poucas coisas concretas a respeito dela mas é uma presença omnipresente nas minhas memórias de infância. Como um cheiro que nos remete para algo que vivemos, também ela era uma âncora que me ligava à pessoa que eu era. Não pela proximidade emocional mas pelo mecanismo de busca que activava no meu cérebro. 

Quando estas âncoras desaparecem será que perdemos um pouco dessa essência distante? Será que os fragmentos esfumaçados da nossa memória são suficientes para ainda lhe dar consistência?

Quando me lembro dela recupero memórias cuja existência eu desconhecia. Provavelmente estavam perdidas no mesmo guarda-fatos de onde ela saia e onde eu me escondia quando era pequena, para fugir da minha avó. Sentava-me no meio dos casacos e em cima das mantas e ali ficava, no escuro, à espera que me encontrassem.

Estas memórias deviam estar no bolso de um desses casacos. Agora que o voltei a usar, levei a mão ao bolso e encontrei-as. Como uma nota ou um bilhete antigo de cinema, já sem cor, que nos faz viajar para o passado.

Se calhar, há uma parte de nós que se torna inacessível à medida que vamos crescendo e só estas âncoras têm força suficiente para as manter à tona. Ou então, a pessoa que erámos nessa infância distante começa a assemelhar-se às imagens do Titanic no fundo do oceano: um pedaço de aço enferrujado a destilar memórias no silêncio líquido. Em toda a sua glória e beleza misteriosa, torna-se indestrutível. O preço que pagamos por esta sobrevivência teimosa é a distância. Da realidade e das âncoras que nos prendem ao solo.

Tuesday, September 16, 2008

I'm just drawn that way...






 Não fomos todos, apenas, desenhados assim?? Independentemente do que o "assim" seja...
Karma, DNA, condicionantes educacionais, chamem-lhe o que quiserem. Eu apenas fui desenhada assim...

Boa semana para todos

Friday, September 5, 2008

Tenha medo, tenha muito medo

Aproveitando o mote da 2ª edição do Motel Lx, festival de cinema de terror de Lisboa, não podia deixar de partilhar com vocês algumas regras básicas de sobrevivência. São alguns dos slogans do Motel Lx mas são também deduções que qualquer fã de filmes de terror já fez, ainda antes de sair do berço.
Acreditem que, quando estiverem num beco escuro, muitas delas serão preciosas...Seguindo a sugestão de um amigo meu, acho que deveriamos começar a distribuir panfletos com estas regras à porta das escolas primárias. A educação precoce é a melhor arma contra assassinos psicóticos.

1. Se a sua filha de 5 anos lhe falar em latim, não tente perceber, dispare. (ok, é um bocado exagerado. Neste caso, aconselho que prenda a criancinha dos infernos e passe directamente para a regra nr.3 . Pode ser igualmente eficaz e ainda damos o benefício da dúvida à míúda)

2.Desconfie de estranhos com joelhos que se dobram para trás quando andam e para os lados quando correm
(fazem-se excepções se o estranho em questão for contorcionista, aberração de circo ou se tiver seguido à risca a regra nr. 5)

3. Se o seu filho de 5 anos lhe falar com voz grossa, não tente perceber, chame um exorcista
(se não resultar e o miúdo começar a vomitar uma mistela verde, aconselho que volte à regra nr.1 . Better safe than sorry)

4. Não tome duche se estiver sozinho em casa. Lave-se por partes
(pode não ser muito higiénico mas aposto que a gaja do Psycho, dado o seu final trágico, não se teria importado em ter algum odor corporal...)

5.
Se a meio da noite ouvir barulhos estranhos na cozinha, não vá ver o que é, fuja pela janela do quarto (se viver num 7º andar, aconselhamos a que não salte. Foi esse o problema do gajo da regra nr2. Vá buscar a arma que usou para matar a criancinha dos infernos e vá direito à cozinha)

6. Se for lavar os dentes, não se olhe ao espelho. Melhor, não lave os dentes
(como para lavar os dentes não precisamos de nos olhar ao espelho, esta podem ignorar. Só não digam bloody mary 3 vezes perto do espelho e enquanto lavam os dentes)

7. Não dê boleia a homens com machados
(especialmente se tiverem um Smart. O homem e o machado não cabem lá dentro e depois é uma grande chatice se ele vos quiser matar. Não tem espaço para manobrar o machado)

8. Não compre bonecos que andem ou falem
(não interessa se se chamam Cindy ou Fluffy Bear. Vão acabar por se transformar no Chucky. São estes bonecos que dão origem às criancinhas das regras 1 e 3)

9. Não entre em cemitérios à noite e evite sotãos, caves, cabanas abandonadas e bosques
(estas explicam-se por si mesmas...quem é que quer fazer coisas destas?? Só mesmo alguém que nunca tenha visto filmes de terror)




Bom fim de semana!

Tuesday, August 19, 2008

Buffy

É pequenina e franzina mas dá enxertos de porrada como gente grande. Parece uma chefe de claque mas caça vampiros e outros demónios que aterrorizam o mundo mortal. Os seus acessórios favoritos são uma estaca bem afiada, um baton vermelho da Dior (esta última parte é liberdade criativa mas qualquer mulher de bom gosto adora Dior) e o casaco de cabedal oversize do ex-namorado. O casaco é o que resta de uma bela história de amor, uma vez que o dito cujo já foi desta para melhor há umas séries atrás. Este "enredo" é demasiado longo para contar aqui mas pode ser resumido assim: girl meets boy / girl falls in love with boy / boy is a vampire / vampire boy trys to kill girl / girl kills boy. Pelo menos, foi bonito enquanto durou...


(se querem a minha opinião, quem devia ter levado com uma estaca era o outro namorado, que aparece umas séries mais à frente neste enredo. Americano até à medula, era bocejante como ele só. Mas isso posso ser eu, que até acho piada a um homem com uma pitada - só uma pitada - de "bad boy". Antes bad que boring).


Para além disto tudo, a menina ainda canta, dança, e tem um sentido de humor retorcido.


Senhoras e senhores, Buffy Summers, a Caçadora de Vampiros. Nas horas vagas, fora de Gotham City e sem a minha máscara, não me importava de ser como ela ;)




Sing along, once more with feeling!

Sunday, August 3, 2008

Pornography

- Em que é que pensas quando estás a dançar?


- Penso em ti. Mas não devia.


- Porquê?


- Porquê o quê? Porque é que penso em ti ou porque é que não devia?


- Porque é que não devias.


- Não sei.


- Isso não é resposta.


- Eu sei que não é. Mas às vezes “não sei” é o melhor que se pode saber.


- E porque é que pensas em mim?


- Porque a tua imagem fala mais alto do que a música.


- Então quando danças, danças para mim?


- Se fosses menos presunçoso tinhas mais charme...


- Isso é um não?


- De certa forma é um "sim". Mas só porque não estás lá. Se estivesses, não o faria.


- Porquê? Achas que isto é um erro?


- “Porquê, porquê”. Já devias ter ultrapassado a idade dos “porquês”.


- Sim ou não?


- Talvez...mas mesmo que seja um erro, pode não ser necessariamente errado.


- Tu adoras contra-sensos.


- A grande beleza disto tudo é ser um contra-senso.


- Disto, nós?


- Não, a vida. Isto pode ser errado porque tu és tu e eu sou eu, mas também pode ser a coisa mais certa do mundo porque tu és tu e eu sou eu.


- Pois... podemos estar a desperdiçar o melhor de nós porque mais tarde pode revelar-se o pior em nós.


- O pior é perdermos um pedaço de nós que não pode ser reconstruído. Mas esse pedaço também nunca poderá existir se não arriscarmos estilhaçá-lo, portanto.. Lá está o contra-senso outra vez. Ou o duplo senso.


- Como dois bailarinos. Tens que acreditar que o teu parceiro não te vai deixar cair mas se acontecer, tens que voltar a confiar nele. Ou então mudar de parceiro.


- Não, isso não. Eu gosto de dançar contigo.


- Mesmo que eu te deixe cair?


- Sim. Se for esse o caso, teremos apenas que aprender outra dança.


- Então é porque não sou assim tão presunçoso.


- És. Mas eu gosto de arestas por limar.


- Pretendes limar-me?


- Não, pretendo deixar-te exactamente como és.


- Isso é estranho.


- Eu sou uma pessoa estranha.


- És. Mas eu gosto de arestas por limar.


- Pretendes limar-me?


- Não, pretendo descobrir que não és tão perfeita como pareces.


- E não sou.


- Pois, esse é o grande problema. Se não fores, tornas-te ainda mais perfeita.


- Perfeito seria irmos dançar agora.


- E se eu não souber dançar?


- Claro que sabes. Uma dança é uma conversa sem palavras. E nós já falámos muitas vezes em silêncio.






Tuesday, July 29, 2008

Sunscreen

Don’t worry about the future; or worry, but know that worrying is as effective as trying to solve an algebra equation by chewing bubblegum. The real troubles in your life are going to be things that never crossed your worried mind

Do one thing everyday that scares you

Don’t be reckless with other people’s hearts, don’t put up with people who are reckless with yours

Don’t waste your time on jealousy; sometimes you’re ahead, sometimes you’re behind…

Keep your old love letters, throw away your old bank statements

Don’t feel guilty if you don’t know what you want to do with your life…the most interesting people I know didn’t know at 22 what they wanted to do with their lives, some of the most interesting 40 year olds I know still don’t.

Enjoy your body, use it every way you can…don’t be afraid of it, or what other people think of it, it’s the greatest instrument you’ll ever own..

Dance…even if you have nowhere to do it but in your own living room.

Read the directions, even if you don’t follow them

Understand that friends come and go, but some precious few you should hold on.

Travel


E usem sempre protector solar ;)


Saturday, July 26, 2008

Boca a boca



- Gostas de caramelo?

- Nem por isso...prefiro canela. Não gosto de coisas muito doces.

- Isso quer dizer que não gostas de chocolate?

- Sou viciada. Mas prefiro chocolate preto.

- Mas o chocolate é viciante por ser doce.

- Não, o chocolate é viciante por ser chocolate.

- Então e...

- Podes parar com o interrogatório. Não gosto de nada adulterado, detesto tudo o que mascare o sabor real das coisas.

- Mas pões açúcar no chá e no café

- Gosto de adicionar um bocadinho de açúcar às coisas mas nunca o suficiente para as alterar ao ponto de não conseguir diferenciar os sabores. Ou que um sabor se sobreponha aos outros.

- Gostas de separar o trigo do joio, mas só quando te interessa.

- Talvez, não digo que não. Não somos todos assim, um bocadinho parciais e egoístas?

- Alguns.

- Lá estás tu armado em paternalista. Quem gosta de coisas doces é mais altruísta, é isso?

- Não, é mais optimista.

- Acho que era o Oscar Wilde que dizia que um optimista é um pessimista sem experiência de vida...

- O Oscar Wilde era um cínico como tu. Mas depois também devia pôr açúcar no chá...

- Talvez seja um pouco cínica, mas quem é que disse que doce é melhor do que amargo? Nada é sempre doce, até o doce se estraga. Gosto de ver as coisas como elas são. Mas é preciso manter alguma sanidade. É sobrevivência e não cinismo.

- Como assim?

- Lembras-te de quando éramos crianças? Depois de tomar um remédio amargo, comíamos uma bolacha ou bebíamos sumo. O açúcar ajudava a engolir uma coisa que sabia mal, mas continuavas a ter os dois sabores misturados na boca.
E no fundo, era o sabor mais amargo que te curava... É importante nunca esquecer o que nos amargou. Mas também é importante não deixar de sentir o sabor doce das coisas que vêm depois.

- Já não estamos a falar de comida, pois não?

- Alguma vez estivemos?




Monday, July 21, 2008

A realidade agora a cores...?


Sweet dreams are made of this

Who am I to disagree?

Travel the world and the seven seas

Everybody's looking for something

Some of them want to use you

Some of them want to get used by you

Some of them want to abuse you

Some of them want to be abused




Sunday, July 13, 2008

Sexto(s) Sentidos





Depois dos cinco

O sexto sentido

Sabera tudo entrelacar

É por tudo o que em nós corre

Que se vive e que se morre

Eu toco, eu fujo, eu volto, eu passo

Giro nos meus seis sentidos

Eu desco à terra e subo ao espaco

Agarrado aos seis sentidos

Sérgio Godinh0, Sextos Sentidos

Monday, June 9, 2008

Sex and the City


Paris, um príncipe, uma princesa, um vestido Versace digno de qualquer conto de fadas. Foi assim o final da 6ª série de “O Sexo e a Cidade”. Carrie teve direito ao seu “happy end” e nós pudemos acreditar que seria possível mudar um homem como Mr.Big.

Dizem os cínicos que os contos de fada acabam onde a vida real começa. Por esta ordem de ideias, “O Sexo e a Cidade”, versão filme, é a vida real de Carrie e Big (agora com direito a nome próprio, John). Mas será que a vida real pode ter um final de conto de fadas?



Não vou dar a resposta, vou apenas dizer que até lá chegarmos podemos encher o olho com o melhor guarda-roupa do planeta, Manolos incluídos, e acima de tudo assistir à verdadeira história de amor de “O Sexo e a Cidade”: a que liga Carrie, Charlotte, Samantha e Miranda. Um amor à prova de homens, à prova da passagem dos anos e das discussões. Um amor profundo e inabalável que foi sempre a alma e o coração da série. Irmãs, família, unha com carne, sangue, DNA partilhado. Um amor que representa o melhor de cada uma delas e a certeza de que nenhuma alguma vez estará sozinha. Os homens vão e vêm, elas ficam.


“Vocês são os grandes amores da vida dela. Qualquer homem será um sortudo por estar em 4º lugar”, diz Big antes de cavalgar para Paris em busca da sua princesa. E tem razão.




Tuesday, May 20, 2008

The Girl With Many Eyes


One day in the park I had quite a surprise.

I met a girl who had many eyes.
She was really quite pretty(and also quite shocking!)

and I noticed she had a mouth,
so we ended up talking.

We talked about flowers,
and her poetry classes,
and the problems she'd have
if she ever wore glasses.

It's great to know a girl
who has so many eyes,
but you really get wet
when she breaks down and cries.

Sunday, May 4, 2008

My Blueberry Nights

A melhor forma para ver este filme é sem som (ou então, só com o som da banda sonora, eliminando as palavras e substituindo-as pela voz de Cassandra Wilson e Cat Power). Porque em My Blueberry Nights” as imagens contam uma história diferente, mais envolvente e profunda, do que os diálogos dos protagonistas. São fragmentos cheios de grão, tratados por camadas (de tarte) saturadas de cor: primeiro o letreiro do café, depois o vidro com os seus brilhos e reflexos, Jude Law e Norah Jones, e finalmente tartes, mesas, cadeiras e um balcão. E um sem número de coisas que não podem ser ditas mas que ficam no ar e são sentidas. Cada fragmento, cada camada, parece dizer “i’m in the mood for love”. Com mais eloquência do que as palavras que sabem sempre a pouco.
Não há uma única imagem linear em Wong Kar Wai e mesmo não sendo o seu melhor filme, “My Blueberry Nights” tem o habitual charme e sedução do seu universo cinematográfico. Se as palavras, citando os Depeche Mode, “are meaningless and forgetable”, as imagens não o são. Apetece-nos continuá-las, perdendo-nos na noite e nos néons, em busca da nossa própria tarde de mirtilos.


Friday, May 2, 2008

...

"Mesmo que pudesse dizer tudo, não podia
dizer tudo, e está bem assim"

Adília Lopes



Sunday, April 27, 2008

Blade Runner

Replicant. Implica o acto de duplicar o mesmo ser várias vezes, criando sempre o mesmo produto final. Um todo homogéneo e imutável, isento das transformações que o contacto com o mundo opera. Uma vida com prazo de validade (não o são todas?) controlada do nascimento à morte e, por isso, menor. "Nem sempre é fácil encontrar o nosso criador", diz Roy. O criador esquece-se que, ao lançar a "criação" para o mundo, esta torna-se outra, é entregue a si própria. Vê, sente e evolui.

Num mundo de Replicants, a individualidade é muitas vezes esquecida. Excepto por aqueles que a sentem na pele. Mesmo que a pele seja sintética.

E talvez seja assim. Vemos coisas, sentimos coisas, vivemos e depois morremos. E com cada um morre algo de único e irrepetível. E são esses momentos entrelinhas, no entretanto, que se tornam mágicos. Aqueles momentos parvos e sem nada de grandioso em que tudo acontece e que tudo marcam. As pessoas perderam a capacidade de simplesmente estar, sem que nada mais seja preciso. Estar com o outro, apenas. Sem grandes acontecimentos ou planos. Just be.E são esses momentos que devem ser Replicants.

Boa semana !

Monday, April 21, 2008

Serial instincts

Encontrei-me novamente com esta música ao vasculhar os meus ficheiros MP3 para renovar a playlist para o dia seguinte. Sim, o Ipod e os seus "primos" mais "chungas" (um dos quais é meu)são uma arma indispensável contra o dia-a-dia urbano. Ouvimos histórias enquanto outras nos passam ao lado, construímos personagens a meio caminho entre a cara do desconhecido no metro e a Beyonce que nos berra aos ouvidos (bem antes ouvi-la do que vê-la, a abanar-se tanto que parece que está a ter um ataque epilético (não tenho nada contra a Beyonce, já abanei o pézinho ao som da moça, mas o que é demais enjoa).
Não sei porquê, sempre gostei desta música dos Scissor Sisters. Talvez seja a surpreendente..."profundidade" da letra, por debaixo de uma melodia contagiante. Talvez seja a loucura subjacente a algumas estrofes...eu sempre disse que daria uma excelente serial-killer... ;)



It's not easy having yourself a good time
Greasing up those bets and betters
Watching out they don't four-letter
Fuck and kiss you both at the same time
Smells-like something I've forgotten
Curled up died and now it's rotten
I'm not a gangster tonight
Don't want to be a bad guy
I'm just a loner baby
And now you're gotten in my way

I can't decide
Whether you should live or die
Oh, you'll probably go to heaven
Please don't hang your head and cry
No wonder why
My heart feels dead inside
It's cold and hard and petrified
Lock the doors and close the blinds
We're going for a ride

It's a bitch convincing people to like you
I've got to hand it to you
You've played by all the same rules
It takes the truth to fool me
Oh I could bury you alive
But you might crawl out with a knife
And kill me when I'm sleeping

Sunday, April 20, 2008

The wild rose

They call me the wild rose

And I believe in Love

And I believe in some kind of path

That we can walk down

Duas das minhas músicas favoritas de Nick Cave, para aqueles que conseguiram bilhetes para o concerto e para os que não conseguiram... eu não consegui snif snif

Quem lá for, passe por aqui e conte tudo!

Boa semana para todos

Monday, March 31, 2008

Às vezes apetece dizer...

This ever changing world in which we live in
Makes you give in and cry
Say live and let die



Às vezes apetece mesmo...

Friday, March 28, 2008

Sing along


You have to understand the way I am,
Mein Herr.
A tiger is a tiger, not a lamb.
Mein Herr.
You'll never turn the vinegar to jam,
Mein Herr.

Cellophane
Mister Cellophane
Shoulda been my name
Mister Cellophane'
Cause you can look right through me
Walk right by me
And never know I'm there...

We could be heroes...Just for one day.

Bom fim de semana!

Monday, March 3, 2008

Into the Wild

“I went to the woods because I wanted to live deliberately, I wanted to live deep and suck out all the marrow of life, To put to rout all that was not life and not when I had come to die discover that I had not lived.”

Henry David Thoreau


Durante os últimos quatro meses a minha vida profissional tem sido feita de palavras. São a minha ferramenta diária, o barro que moldo para tentar obter uma estátua tosca, imperfeitamente perfeita. É sempre uma tarefa incompleta e frustrante, tanto quanto é gratificante.
As palavras têm que sair a um ritmo doido e, por vezes, de forma mecânica. É uma técnica que se adquire, como outra qualquer. Mas não sem custos. A consequência negativa deste ritmo é a ausência de palavras para usar na vida pessoal. Quando volto para casa, perdem-se pelo caminho. Ou pelo menos, perdem a sua forma de expressão. Como numa tela de cinema mudo, onde tudo mexe mas nada se diz.


Circles they grow and they swallow people whole...

Há algumas semanas atrás, cruzei-me com Into de Wild, o novo filme de Sean Penn. Nesta tela, a história de Chris McCandless é contada através de imagens de uma viagem solitária. "Diálogos" de um para um, nos quais as palavras se encontram com o silêncio e existem apenas como parte do sangue que corre nas veias. Circulam pelo corpo sem necessidade de tradução, consequências do overload de emoções que o exterior provoca. Citações de Thoreau misturam-se com as palavras de Alex Supertramp (o alter-ego de Chris) e com as letras de Eddie Vedder, construindo a paisagem interior do filme. Palavras que existem como Chris existe na estrada, sozinho.

A mind full of questions, and a teacher in my soul

Deu todas as suas poupanças e partiu, rumo ao Alasca. Queria escrever a sua própria história e assim o fez: pela estrada alarga o círculo que o sufocava, retirando, camada após camada, aquilo que é falso. Aquilo que é mecânico. Aquilo que, por força do hábito e do ritmo louco, deixamos passar como verdadeiro. Tudo aquilo que Chris sempre viu à sua volta e queria desesperadamente evitar.

All my destinations will accept the one that's me / So I can breathe...

Aos 23 anos viveu uma vida inteira e, quero acreditar, cumpriu o seu destino em 2 anos de caminho. Tocou e foi tocado por seres humanos extraordinários, marcas da sua existência no planeta. Descobriu tarde demais a importância do outro nas nossas viagens solitárias, mas como ele próprio diz “ Se eu estivesse a sorrir e a correr para os teus braços, verias o que eu vejo agora?”.

Everyone I come across, in cages they bought / They think of me and my wandering, but I'm never what they thought / I've got my indignation, but I'm pure in all my thoughts/ I'm alive...

Seja na vastidão do Alasca ou no espaço exíguo de uma rua, defendo os momentos de solidão em que as palavras se perdem no vazio. Aqueles que são nossos e intransmissíveis, quando o mundo à volta nos sugou a energia para explicar seja o que for. Defendo o diálogo interior sem necessidade de eco, sem querer saber o que os outros acham. A necessidade de estar apenas em silêncio sem que o silêncio tenha que ter uma razão de ser, para além de simplesmente não conseguirmos falar. O encontro com aquela última camada que somos nós, o verdadeiro eu. Mas defendo também aqueles que simplesmente estão lá, mergulhados na sua própria viagem, mas de mãos dadas connosco. Aqueles que não pedem explicações para o que não pode ser explicado. Aqueles que fazem com que os momentos sejam verdadeiros. “Happiness is only real when shared”.

Não fujam dos murros no estômago, são eles que nos acordam. Evitem todas as jaulas, alarguem todos os círculos, conheçam todas regras mas não se deixem vergar por nenhuma. Não tenham medo da ausência de palavras só porque elas não conseguem ser ouvidas pelos outros. Não é uma ausência, é apenas um silêncio. E o silêncio é um nada que é tudo. É um eco de tambor que ressoa dentro de nós.

Viajem sem mapa, quem chegar ao Alasca primeiro acende a fogueira....

Wind in my hair, I feel part of everywhere /Leave it to me as I find a way to be / Consider me a satellite, forever orbiting / I knew all the rules, but the rules did not know me / Guaranteed



Boa semana para todos!
Sempre que as palavras voltarem, estarei aqui para as partilhar...


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Tuesday, February 5, 2008

Sweeney Todd e as tartes deliciosas

Para Benjamin Barker tudo era perfeito: tinha uma mulher (Lucy) uma filha (Johana) a vida era ingénua e pura. No seu mundo, tudo era luminoso e aquecido pelo sol.
Por outro lado, o mundo do Juiz Turpin era seco e vazio. Precisava de algum calor. Para azar de Barker, Lucy pareceu-lhe a “lareira” ideal. E como roubar é mais fácil, dá menos trabalho e, no fundo, como homem da lei até já tinha alguma prática no assunto, Turpin afastou Benjamin do caminho, mandando-o prender sob uma falsa acusação. Sem saber ler nem escrever, perdeu tudo num instante de inveja, misturado com doses massivas de mau carácter. Todos eles ingredientes desconhecidos para o paladar de Benjamin e que lhe deixaram um gosto amargo na boca.
Desse fel nasceu Sweeney Todd, fruto de 15 anos de isolamento nos confins da Humanidade. Todd é o que resta do Homem, uma caixa de Pandora na qual apenas ficou um sentimento – se Benjamin era feito de mel, Sweeney é temperado com a pimenta da vingança. O seu mundo é cinzento e pálido, a única cor é o vermelho que jorra das jugulares cortadas.
Para azar de Turpin, o seu sangue tem uma tonalidade que agrada a Sweeney...é mesmo a tinta que faltava para acabar o quadro...

Numa entrevista recente de Johnny Deep, o actor que consegue fazer tudo dizia : “num mundo perfeito todas as pessoas esqueceriam e perdoariam os males que foram feitos, mas não sei se é possível uma pessoa simplesmente esquecer e perdoar um mal imenso de que foi vítima. Eu sei que nunca seria capaz. Se alguém me faz mal, a mim ou a alguém que amo, faço sempre questão de que essa pessoa saiba que, agora, é guerra. Sou um grande admirador da vingança. Sou mesmo! Pode ser uma vingança subtil. Pode ser apenas feita através da ordem natural do mundo, tipo karma.”

Li isto pouco antes de ver o filme e pensei “gosto deste gajo”. Eu sou do clube de Deep e acredito em chapadas de luva branca, mesmo quando algumas pessoas merecem um tratamento mais....”cortante”. Sweeney Todd, pelo contrário, é mais murros no estômago... e barbas muito bem feitas. Mas mesmo muito bem feitas....

Ao longo do filme, estas palavras de Deep ecoavam no meio da música e embora nunca tenham perdido o sentido ou a veracidade, ganharam outros contornos. Porque o homem que Deep desempenha no filme, é um homem cego pela vingança. O que vemos nos olhos de Deep/Sweeney é oco e vazio, uma carcaça sem alma, indiferente a tudo e a todos – ao amor de Mrs. Lovett e até aos fragmentos da vida luminosa que teve antes. Lucy e Johana são, agora, parentes pobres da vingança. As navalhas de prata são o grande amor de Sweeney Todd.

A tragédia final é inevitável, embora, secretamente e com toda a ingenuidade de Benjamin, todos nós desejássemos uma final diferente para Sweeney. Uma vida à beira mar com Mrs. Lovett, talvez. Mas no fundo, será que Sweeney desejaria um final diferente para si próprio? Não me parece que voltasse atrás, que renegasse a sua vingança. Tudo foi como tinha que ser, bom ou mau. O seu último momento é marcado por um subtil acto de aceitação, assumindo as responsabilidades de um percurso. À sua maneira negra e retorcida, é um “viveram felizes para sempre”...

O novo filme de Tim Burton é um musical mas não esperem austríacas a correr pelos montes e criancinhas adoráveis. Este é um musical diferente...A única criança da história faria os Von Trapp borrarem-se de medo. E em comparação com eles, é um velho de 80 anos.
Esperem sim, a música genial de Stephen Sondheim, o guarda-roupa maravilhoso de Colleen Atwood, muito humor negro e interpretações fabulosas.Tudo orquestrado visualmente por Burton e Dante Ferretti, o eterno “set designer” de Martin Scorcese

Para além do sempre deslumbrante Johnny Deep, Helena Bonham-Carter é deliciosamente perversa. A sua Mrs. Lovett é uma boneca de trapos que tenta cozinhar um futuro mais risonho com as sobras que lhe são dadas. Adorável e odiável ao mesmo tempo, mas profundamente humana, por baixo de toda a maquilhagem gótica.

Sweeney Todd é Tim Burton em tudo aquilo que o caracteriza. Para quem gosta, é uma refeição completa. Para quem não gosta, talvez saia do cinema com fome. Seja como for, tenham cuidado com a tartes de Mrs.Lovett...podem engasgar-se com algum osso que tenha escapado à trituradora...