Sunday, August 3, 2008

Pornography

- Em que é que pensas quando estás a dançar?


- Penso em ti. Mas não devia.


- Porquê?


- Porquê o quê? Porque é que penso em ti ou porque é que não devia?


- Porque é que não devias.


- Não sei.


- Isso não é resposta.


- Eu sei que não é. Mas às vezes “não sei” é o melhor que se pode saber.


- E porque é que pensas em mim?


- Porque a tua imagem fala mais alto do que a música.


- Então quando danças, danças para mim?


- Se fosses menos presunçoso tinhas mais charme...


- Isso é um não?


- De certa forma é um "sim". Mas só porque não estás lá. Se estivesses, não o faria.


- Porquê? Achas que isto é um erro?


- “Porquê, porquê”. Já devias ter ultrapassado a idade dos “porquês”.


- Sim ou não?


- Talvez...mas mesmo que seja um erro, pode não ser necessariamente errado.


- Tu adoras contra-sensos.


- A grande beleza disto tudo é ser um contra-senso.


- Disto, nós?


- Não, a vida. Isto pode ser errado porque tu és tu e eu sou eu, mas também pode ser a coisa mais certa do mundo porque tu és tu e eu sou eu.


- Pois... podemos estar a desperdiçar o melhor de nós porque mais tarde pode revelar-se o pior em nós.


- O pior é perdermos um pedaço de nós que não pode ser reconstruído. Mas esse pedaço também nunca poderá existir se não arriscarmos estilhaçá-lo, portanto.. Lá está o contra-senso outra vez. Ou o duplo senso.


- Como dois bailarinos. Tens que acreditar que o teu parceiro não te vai deixar cair mas se acontecer, tens que voltar a confiar nele. Ou então mudar de parceiro.


- Não, isso não. Eu gosto de dançar contigo.


- Mesmo que eu te deixe cair?


- Sim. Se for esse o caso, teremos apenas que aprender outra dança.


- Então é porque não sou assim tão presunçoso.


- És. Mas eu gosto de arestas por limar.


- Pretendes limar-me?


- Não, pretendo deixar-te exactamente como és.


- Isso é estranho.


- Eu sou uma pessoa estranha.


- És. Mas eu gosto de arestas por limar.


- Pretendes limar-me?


- Não, pretendo descobrir que não és tão perfeita como pareces.


- E não sou.


- Pois, esse é o grande problema. Se não fores, tornas-te ainda mais perfeita.


- Perfeito seria irmos dançar agora.


- E se eu não souber dançar?


- Claro que sabes. Uma dança é uma conversa sem palavras. E nós já falámos muitas vezes em silêncio.






8 comments:

Miss Vesper said...

e venham os silêncios regados a palavras. keep it going ;)

after eight kisses

Tongzhi said...

Excelente diálogo!!!
Bjs

Unknown said...

Cat-Womane,,,, boa conversa,,,, gostei especialmente das arestas,,,,, Com esse título você assustou-me,,,, mas ok,,,, o texto é seu?

Catwoman said...

Obrigada a todos pelos elogios :) espero continuar a ter palavras para colocar em forma de texto...há que aproveitar enquanto os silêncios aparecem em forma de palavras...;)

White Scratcher, como já deve ter percebido o texto é meu. O título não pretendia assustar ninguém...mas quaisquer reclamações devem ser reencaminhadas para os Client, uma vez que pedi emprestado o título da música deles lol Eu também gosto especialmente de arestas...são o que dão textura às pessoas. E eu gosto de pessoas com textura ;)

Pedindo a expressão emprestada à Cris :P after eight kisses para todos :)

The White Scratcher said...

Você e a Cris estão a ficar demasiado rebuscadas,,,, muita areia para a minha carrinha,,,,ahahah

Catwoman said...
This comment has been removed by the author.
Catwoman said...

Eu sou tudo menos rebuscada White Scratcher...não tenho espaço no triciclo para isso lol :P

The White Scratcher said...

A rebusquice compra-se na loja, vai-se gastando e depois compra-se mais. Não porque seja barata, mas porque aprendemos a trabalhar com ela,,,,,