Tuesday, July 24, 2007

Mil Folhas

Finalmente, em resposta ao desafio da Anita, aqui estão os meus cinco livros favoritos (se é que isso é possível escolher...). É claro que vou fazer batota e pôr mais dois :P mas não consigo mesmo deixar um destes títulos de fora.


- Aparição, Vergílio Ferreira (talvez o meu escritor favorito, faz parte do meu sangue)

- As Horas, Michael Cunnigham (é difícil alguém voltar a descrever tudo aquilo que amo no mundo desta forma...)

- O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde (porque inteligência, ironia e alguma crueldade são irresistivéis para mim...)

- O Monte dos Vendavais, Emily Brönte (tudo aqui é sangue, cada emoção é sentida como se fosse a única e a última alguma vez a ser sentida no mundo...)

- Lolita, Vladimir Nabokov (um livro marcado a ferro e fogo na pele...simplesmente adoro porque o mundo não é a preto e branco...)

- 1984, George Orwell ( avassalador pela análise profunda e perspicaz deste "Admirável" Mundo Novo que ainda estamos a descobrir hoje e que Orwell viu com tanta clareza... brilhante)

- O grande Gatsby, F.Scott Fitzgerald ( simplesmente porque o fascínio não se explica e eu sou fascinada por tudo neste livro...)


Parte desta escolha está relacionada com a altura em que foram lidos. Praticamente metade da lista foi lida no Verão em que a minha avó morreu, em que passei muito tempo em casa porque ela precisava de companhia constante. Estes livros foram as minhas testemunhas, a minha companhia, o meu refúgio. E há alturas em que as palavras dos outros são a nossa melhor expressão, o nosso maior conforto...Tal como há alturas, como agora, em que temos a mente tão cheia e tão em alvoroço que parece não haver espaço para deixar entrar outros universos. Talvez por isso não leia um livro já há algum tempo... mas na mesinha de cabeceira está o "Norwegian Wood" do Haruki Murakami, que parece chamar por mim. Se calhar está na altura em que viajar por outros mundos é um imperativo para a sanidade mental...


Aliás, pegando no conceito "livros na mesa de cabeceira" do Senhor do Mundo :P na minha mesa de cabeceira, para além de Murakami, estão sempre "Poemas escolhidos de António Gedeão" (neste momento muito bem entregue noutras paragens, porque as coisas boas são para se partilhar ;) ) "Aforismos" de Oscar Wilde, poemas da Sophia de Mello Breyner e o último bom livro que li...porque quando são muito bons e ficam entranhados, preciso da presença física deles durante algum tempo...simplesmente não consigo arrumá-los na estante de imediato.

Agora Anita, um desafio pessoal : que tal um post com as nossas citações favoritas dos livros favoritos? ;) Sabes bem que somos cromas o suficiente para as termos todas escritas num caderno algures... lol Pensa nisso e diz qualquer coisa ;)


Beijinhos a todos, boa semana :)

Sunday, July 22, 2007

Lady in the Water

Este filme é definido como uma história de embalar. Uma história de embalar que M. Night Shyamalan contava todas as noites aos filhos e que lentamente se foi transformando num argumento. É a estória de Story, uma narf ou ninfa da água, habitante de um mundo antigo que no início dos tempos interagia com o mundo do Homem. Até o Homem se esquecer de como comunicar e ouvir os habitantes do Mundo Azul, perdendo assim parte da sua clarividência e inocência. A passagem da infância à idade adulta.

Cleveland é o porteiro de um complexo de apartamentos, uma figura aparentemente neutra e apática que funciona como elo de ligação entre os vários condóminos, uma rede de seres singulares e estranhos. É ele que encontra a narf na piscina dos apartamentos, é ele a ponte que liga Story ao mundo. O mundo que é obrigado a enfrentar novamente por “amor” a Story. Tal como se afastou dele por amor.
Não foi por acaso que Cleveland encontrou a narf. Esta viagem é a sua função, a sua essência. E é de função, propósito e essência, que fala Lady in the Water. De que falam todos os filmes de M. Night Shyamalan.


Em “Sinais”, outro dos seus filmes, há uma cena entre os dois protagonistas em que o mundo é dividido em dois tipos de pessoas – aqueles que acreditam em sinais, que acreditam que há uma ordem para as coisas, e aqueles que acham que a vida é uma sucessão de momentos arbitrários. Shyamalan insere-se na primeira categoria. Essa convicção percorre todos os seus filmes em pequenas pistas que nos indicam o final. Pistas que nem sempre são visíveis de imediato e muitas vezes só nos ocorrem depois do filme acabar, mas que estão lá – são frases, cores, momentos, que transmitem intuições. Porque M. Night acredita em sinais.

Em Lady in the Water, todas as peças se vão encaixando, pequenos sinais se vão revelando importantes e todos os “handicaps” se transformam em características essenciais para o desenvolvimento da estória – devolver a narf ao Mundo Azul, combatendo as forças que o querem impedir. As mesmas forças que nos impedem de ver além das fraquezas. Tudo aquilo que as personagens sempre encararam como inadequações ou bizarrias encontram em Story um propósito. Story representa a tal inocência e clarividência que nos filmes de Shyamalan parecem andar sempre de mãos dadas. Talvez por isso as crianças e o seu universo sejam sempre protagonistas nas histórias de M. Night, porque conseguem ver para além dos preconceitos e pré-definidos do mundo adulto e ter uma ligação intuitiva aos sinais que as rodeiam. Lady in the Water exige isso de nós, um regresso à infância, a mundos de monstros e fadas, de Guardiões e Simbolistas. Uma viagem ao passado para poder encarar o futuro. To move on. Há um pouco de Cleveland em todos nós, escondido e paralisado naquela figura neutra e apática. E provavelmente todos nós temos uma Story, que nos revela o nosso propósito e função no mundo. Ou uma série de Storys, porque esse propósito tem muitas curvas e contra-curvas, é mutável ao longo da vida.

Também eu acredito em sinais e talvez seja essa a minha fonte de ligação aos filmes de Shymalan. Acredito em sinais. Se tenho alguma religião ou fé, presumo que seja essa, que o mundo não é arbitrário, que as coisas acontecem e encaixam-se de uma forma que faz sentido, mesmo que seja um sentido desfocado que se vai tornando mais claro ao longo dos tempos. Se houve alguma coisa que me acompanhou ao longo dos anos e das mudanças, foi esta convicção. Está entranhada em mim e talvez assim o seja para me ajudar a sobreviver. Citando Lady in the Water, é a minha força de vida, aquilo que teima em palpitar mesmo quando tudo à volta parece morto...

Neste momento sou Cleveland, porteiro desta casa. Story está algures por aqui, nadando no Mundo Azul, à espera que eu a encontre, à espera que eu a ajude a transmitir esperança e beleza ao mundo. Eu procuro Story, a minha clarividência. O som do seu chapinhar na água chega até mim, distante, no eco dos corredores. Um dia chegarei até ela....espero eu.



“Long and hard is the path that leads from darkness into light” - Paradise Lost , John Milton



P.S. : Anita, obrigada pela recomendação ;) Embora continue, à primeira visão, a ter alguns...conflitos...com a forma como o Shyamalan tem decidido mostrar algumas das criaturas mais fantasiosas nos últimos filmes, a filosfia inerente à história é a minha cara lol tinhas razão :) Beijocas

Wednesday, July 18, 2007

Save me

You look like a perfect fit
For a girl in need of a tourniquet
But can you save me

Come on and save me
If you could save me

From the ranks of the freaks

Who suspect they could never love anyone

'Cause I can tell
You know what it's like
The long farewell of the hunger strike
But can you save me
Come on and save me
If you could save me
From the ranks of the freaks
Who suspect they could never love anyone

You struck me dumb like radium
Like Peter Pan or Superman
You will come to save me
C'mon and save me
If you could save me
From the ranks of the freaks
Who suspect they could never love anyone
Except the freaks
Who suspect they could never love anyone
But the freaks
Who suspect they could never love anyone
C'mon and save me
Why don't you save me
If you could save me
From the ranks of the freaks
Who suspect they could never love anyone
Except the freaks
Who suspect they could never love anyone
Except the freaks who could never love anyone


"Save me". lyrics by Aimee Mann

To be



I am a Jew.


Has not a Jew eyes?


Has not a Jew hands,organs,dimensions,senses,affections,passions,
fed with the same food, hurt with the same weapons,subject to the same diseases, healed by the same means,warmed and cooled by the same winter and summer?

If you prick us, do we not bleed? If you tickle us, do we not laugh?If you poison us, do we not die?



If we are like you in the rest, we will resemble you in that.



Excerto do "Mercador de Veneza" de William Shakespeare

Saturday, July 14, 2007

A insustentável leveza do ser

"... What is the natural state?... Imagine wandering up and down the forest, without industry, without speech and without home..."

Às vezes parece mesmo ser esse o estado natural das coisas, a sua essência. A insustentável leveza do ser traduzida na luz difusa do sol, em simplesmente estar e ocupar o espaço que nos foi dado. O nosso e de mais ninguém. Pequeno mas nosso, inegavelmente nosso. Despido de tudo , sem máscaras, sem rendas e sem tules. Um espaço naturalmente cheio de dúvidas como naturalmente o mundo foi criado - um espaço em que a liberdade e a interrogação, a descoberta e a procura se encontram em perfeita comunhão.


Este petit trianon de Marie Antoinette parece realmente o paraíso... alguém tem um que me possa emprestar?


Bom fim de semana a todos!

Tuesday, July 3, 2007

Respirar...

Sabem aqueles momentos em que parece estar tudo "bem" (seja lá o que isso for...) e derepente há qualquer coisa que nos faz olhar em volta e sentirmo-nos profundamente infelizes e angustiados? Sem saber bem porquê? Talvez sejam as pessoas à nossa volta, a sensação de que aquela não é verdadeiramente" a nossa praia", a súbita realização de que falta qualquer coisa, a pergunta "What am i doing??". Pois...ultimamente tenho tido muitos momentos desses...o que não quer dizer que esteja num momento infeliz...pelo contrário, não me sinto assim, são apenas instantes de angústia em que o ar bloqueia no peito. Se calhar a "infelicidade" é "apenas" essa sensação de aperto no peito multiplicada por várias horas, dias e semanas... Talvez tenha que seguir os conselhos da professora da aula de Tai Chi que tive hoje, e respirar. Sentir o ar percorrer o corpo e sair. Geralmente a angústia vai com ele... No dia a dia, esquecemo-nos muitas vezes de parar e simplesmente respirar...


Para ajudar o ar a circular, uma música que abre as janelas da alma. A mim faz-me sempre respirar... Blossom in the tree you know how i feel.... Ainda por cima associada a uma grande série, sobre a existência de vida e emoções a Sete Palmos de Terra
( foi "abandonada" por mim a meio, mas está aqui guardada num dos quartos para voltar a ela mais tarde...)


Boa semana e respirem! :)