A vida é bizarra.
Tem as suas próprias ideias sobre para onde ir e para onde nos levar.
Como uma criança pela mão da mãe.E controlamos muito pouco...apenas aprefeiçoamos a arte de navegar pela bizarria. É curioso como coisas que já quisemos tanto e nunca conseguimos, uns tempos mais tarde nos vêm parar às mãos e nessa altura já não significam assim tanto....são recebidas com um entusiasmo contido, quase frio e analítico, de cientista a tentar perceber se essas coisas ainda têm lugar na nossa paisagem. Porque entretanto a viagem continuou. Porque as emoções são um organismo que vive e respira e como qualquer outro organismo não cristaliza no tempo, sofre mutações.
Porque há curvas na estrada que não aparecem no mapa e isso é bom. Porque a viagem e os companheiros de estrada nos conduzem na direcção da sabedoria, do conhecimento de que existe algo mais do que o lugar onde estivemos antes.
Algo mais profundo, complexo e completo, mais uma peça do puzzle que encaixou e já nada faz sentido sem ela. Como Platão e a caverna. Depois de estar cá fora, a visão expande-se com cores e dificilmente voltamos para as sombras...
Não se volta atrás quando se descobre que há mais...tudo o que vier em diante, terá que se encaixar nesse "mais" porque "menos" já não se sente como nosso....
Os residuos que ficam desse lugar passado têm que morrer ou transformar-se, encontrar uma nova forma de existir na paisagem. Na sua forma anterior podem já ter sido assimilados pela evolução.
Porque agora o molde é outro, o ajuste é diferente.
E nem sempre aquela peça favorita nos volta a servir....
Talvez seja terrivelmente injusto para esse lugar passado, mas a evolução é cruel e sempre venceram os mais resistentes...
Como se diz no África Minha, "the world was made round so we can't see too far ahead..." E há pessoas como o Denys que nos oferecem bússolas para nos guiar o caminho. Ou se transformam elas próprias nas nossas bússolas, o que é ainda mais precioso. Como a Karen Blixen. Depois de Denys e da bússola, a Dinamarca outrora tão familiar parecia um país estranho.... uma parte inegável de si mesma, mas um lugar estranho onde não tinha a certeza de ainda pertencer.....
Para todos aqueles que fizeram e fazem parte da minha viagem, as minhas bússolas, os meus pontos cardeais.... que me ajudam a perceber qual é a paisagem e são parte indiscutível dela
10 comments:
"tive a sorte de te encontrar numa viagem...
...sofria a ponto de me rolar no chão e a tua voz bastou para me serenar e eu esquecer. Sabes, algumas vezes... quando poisava a cabeça no teu peito a ouvir-te o coração, falavas e a tua voz era exactamente a mesma que esta noite ao telefone...
...eu é que sou fraca...
...sonhei a própria realidade.Acordei sobressaltada e alegre porque se tratava dum sonho, mas quando vi que era verdade, que estava só, que não tinha a cabeça apoiada ao teu pescoço, ao teu ombro...senti que não podia mais viver...
...neste momento respiro porque tu me falas...
...cair outra vez no silêncio, nas trevas...
...reduzida a ouvir-te, vejo com os ouvidos..."
in Voz Humana Jean Cocteau
Imperdoável. Ainda não tinha coloca nenhuma “posta” no teu blog. Lá se vai a minha virgindade bloguista. Lol!
Pois é, concordo contigo. A vida é de facto bizarra. As coisas nunca acontecem quando e como queremos. Não gosto muito da ideia de destino, porque ao contrário do que é explorado até à exaustão em muitos livros, filmes, etc, o destino pode não ser bom. E se o meu destino for cair à linha do comboio e ficar feita em postas? Ou descobrir que afinal ainda estou mais sozinha do que acredito? Ou pior ainda, nunca encontrar a minha casa? Seja como for, não gosto de pensar que somos meros autómatos e que andamos aqui às voltas feitos parvos, cheios de angústias e dúvidas para no fim irmos parar exactamente ao mesmo sítio para onde iríamos de qualquer forma mesmo que fossemos uns tontinhos e não nos preocupássemos com nada, desejássemos nada, sonhássemos com nada… sentíssemos nada. Mas confesso que muitas vezes é mesmo isto que me parece. Parece que tudo já está meio definido. Chamem-lhe karma se quiserem. Um constante remar contra a maré. Quantas vezes lutamos e lutamos e esperneamos um pouco e mesmo assim a nossa jangada da vida lá se vai virando exactamente na direcção para onde não queremos ir. Mas até que ponto aquilo que queremos é aquilo que precisamos? Talvez no fundo o conceito de destino não passe disso mesmo, a vida a dar-nos aquilo que precisamos…
Somos todos criaturas tão insatisfeitas que me pergunto se algum dia as nossas pequenas conquistas nos deixarão felizes. Todos mudamos ao longo do tempo, uns mais outros menos, uns para melhor outros para pior, de modo que é legítimo que os nossos desejos e sonhos mudem também. Aquilo que queremos hoje poderá não ser necessariamente aquilo que iremos querer amanhã. O caminho para o que desejamos nunca é recto mas sempre tortuoso (ou não teria graça), e no meio da confusão lá vamos descobrindo a paisagem, as outras coisas que não conhecíamos, as outras experiências que julgávamos não precisar viver, as outras pessoas que julgávamos não terem nada em comum connosco e que nos ajudam a descobrir um pouquinho de nós próprios a cada dia que passa. Como é que no fim de tanta curva e contra curva ainda vamos querer aquela coisinha ao fundo do percurso? “Tanto trabalho e sofrimento para isto?”, diremos. Já tivemos tanto ali à mão de semear que o resto parece pequeno demais. Como se costuma dizer: “O importante não é ganhar mas sim participar.” Começo a concordar.
Ai que horror! Que "posta" enorme! Sorry!
Olá Catwoman
retribuindo a tua amável visita, vi conhecer o teu blog, e estive a ler atentamentamente os últimos posts. Numa apreciação bastante simplista e rápida, fiquei com a ideia de que és uma pessoa que gostas bastante de tratar os assuntos, como deve ser, não pela rama, mas que te espraias constantemente, conforme o espirito te vai tocando. Daí, esta tua "caixinha" , ser mais uma forma de dialogar com as pessoas sobre os temas que vais expondo, do que um mero somatório de agradáveis e rápidos comentáriosneste post onde estou a escrever, três pequenos apontamentos: a dedicatória final,que te define bastante bem ,suponho; a referência a um filme magnífico sobre a vida de uma mulher fabulosa, e finalmente, um comentário, com uma referência a um dos meus escritores preferidos, Jean Cocteau. É mais do que suficiente para te dizer quanto gostei.
Cris, é isso. A viagem é acima de tudo marcada por pessoas, por emoções. O resto é importante mas no plano geral das coisas, secundário. As pessoas são suportes, tal como um edificio tem que ser suportado por vigas e traves.Sem elas não pode existir. Tudo o que o habita está ligado a essas traves e vigas, mm q n o saiba.... tal como a vida está sempre interligada com a paisagem humana que por ela passa, com as pessoas que nos tocam, as bússolas, os pontos cardeais....e até mm aquelas q nos desnorteiam e magoam, q desafiam a nossa fé. Pq na fundação do edificio tb existem lamas e betão cinzento e frio. Mas acima de tudo há q louvar essas pessoas de quem Jean Cocteau fala, melhor do que eu o posso fazer...as pessoas que nos tocam a alma e as entranhas.
Anita, sê benvinda! Já sabes que a porta está sempre aberta para ti, sejam as "postas" grandes ou pequenas. Diz o q te vai na alma, isso é suficiente :)
Já eu, como sabes, sou daquelas q acredita no destino...e embora nem sempre seja fácil, na maior parte das vezes a sensação que tenho é de conforto. Gosto de parar e olhar para trás e sentir que entre curvas e contra-curvas, umas escolhidas por mim no mapa e outras inesperadas do destino,estou no sítio onde era suposto estar. Que a estrada q ficou para trás, acidentada ou n, me conduziu onde devia.E isso mais uma vez está mto ligado c o património humano : há pessoas e vivências que n teria tido se o caminho n me tivesse conduzido até aqui.E tendo em conta essas pessoas e vivências, os buracos na estrada, as lágrimas e as dores, valeram a pena...
Pinguim, sê benvido à "casa de bonecas" ;) como disse no post inaugural, a porta está aberta a todos, para sentirem o caminho e encontrarem o seu "nicho". Aqui n há julgamentos nem pressas, o tempo e a expressão são de cada um nesta viagem conjunta.
Antes de mais nada obrigada pelas tuas palavras simpáticas e perspicazes, pois acho q "pintaste" um retrato fiel.. A tua inteligência e sensibilidade são uma mais valia para esta "caixinha" onde de facto tento ir mais longe e mais fundo.Pelo q li no teu blog e pelas tuas palavras aqui, penso q possuis uma paz e serenidade que mtas vezes me falta... Portanto, a tua presença como companheiro de viagem na "casa de bonecas" só poderá ser benéfica e cheia de sabedoria para quem ainda está a tentar conhecer o "mapa".
Espero q estas palavras tenham sido suficientes para te dizer o qto gostei da tua visita e o qto espero q seja a 1ª de mtas :)
P.S.: o África Minha é de facto magnífico e só espero q a minha viagem seja tão repleta de emoções, coragem e força como a da Karen Blixen...Jean Cocteau é ainda uma falha nos meus conhecimentos, mas por pouco tempo ;)
Uaauuu, mas que boas vindas...
Obrigado, é bom sentir-mo-nos em boa companhia, não é? Tocaste-me num ponto "danado", que é a sensibilidade, mas enfim, vou suportando certos excessos da mesma.
Quanto ao Cocteau. mãos á obra.
É óptimo sentirmo-nos em boa companhia ! Pois, a sensibilidade faz de nós "vítimas" de certos excessos, que geralmente nos magoam mais a nós do q aos outros...mas enfim,acho q continuo a preferir cultivá-la, tal como tu ;)O mau faz parte do bom...
Qto ao Cocteau, irei dando notícias ;)
Eu recuso-me a deixar a minha vida nas mãos dessa entidade reguladora que postula códigos de conduta. E por isso violo todas as leis naturais. Essa é uma delas... Para mim o futuro vai ser pior que o passado. Nunca serei tão feliz como já fui. Perdi o meu Amor e não quero substiruí-lo. Quem disse que a felicidade deve ser um objectivo da vida??? Não há dignidade em desafiar a Natureza porque ela nos humilha sempre que pode. Mas se não o fizermos não há mudança e a vida não evolui sem mudança.
Antes de mais nada, benvido à casa de bonecas senhor do mundo. Que esta casa te receba bem e voltes sempre que quiseres. Qto ao q escreves...eu entendo o q dizes, especialmente em relação ao teu Amor.Há pessoas e momentos q n têm comparação ou substituição...E no fundo, n, n está escrito em lado nenhum q a felicidade ou outra coisa qq tem q ser um objectivo de vida comum....as "regras" são pessoais e privadas e n é pecado sofrer...n gosto de códigos de conduta pré-definidos e para mim o destino n se insere nessa categoria.Eu n o considero como algo necessariamente positivo...o destino pode ser trágico e a estrada q percorres pode ser sempre sinuosa e cheia de buracos, sem descanso à vista.Mas ainda assim é tua..."there's nothing here but what is here is mine". Simplesmente n sei se é possível permanecer nesse estado para sempre, de combater as leis naturais...é quase o mm q dizer q é possível parar a mudança das estações. Nós tb somos parte desse todo q muda, evolui e se transforma...podemos n nos transformar na direcção da felicidade, mas mudamos...
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