A melhor forma para ver este filme é sem som (ou então, só com o som da banda sonora, eliminando as palavras e substituindo-as pela voz de Cassandra Wilson e Cat Power). Porque em My Blueberry Nights” as imagens contam uma história diferente, mais envolvente e profunda, do que os diálogos dos protagonistas. São fragmentos cheios de grão, tratados por camadas (de tarte) saturadas de cor: primeiro o letreiro do café, depois o vidro com os seus brilhos e reflexos, Jude Law e Norah Jones, e finalmente tartes, mesas, cadeiras e um balcão. E um sem número de coisas que não podem ser ditas mas que ficam no ar e são sentidas. Cada fragmento, cada camada, parece dizer “i’m in the mood for love”. Com mais eloquência do que as palavras que sabem sempre a pouco.
Não há uma única imagem linear em Wong Kar Wai e mesmo não sendo o seu melhor filme, “My Blueberry Nights” tem o habitual charme e sedução do seu universo cinematográfico. Se as palavras, citando os Depeche Mode, “are meaningless and forgetable”, as imagens não o são. Apetece-nos continuá-las, perdendo-nos na noite e nos néons, em busca da nossa própria tarde de mirtilos.