Sunday, April 27, 2008

Blade Runner

Replicant. Implica o acto de duplicar o mesmo ser várias vezes, criando sempre o mesmo produto final. Um todo homogéneo e imutável, isento das transformações que o contacto com o mundo opera. Uma vida com prazo de validade (não o são todas?) controlada do nascimento à morte e, por isso, menor. "Nem sempre é fácil encontrar o nosso criador", diz Roy. O criador esquece-se que, ao lançar a "criação" para o mundo, esta torna-se outra, é entregue a si própria. Vê, sente e evolui.

Num mundo de Replicants, a individualidade é muitas vezes esquecida. Excepto por aqueles que a sentem na pele. Mesmo que a pele seja sintética.

E talvez seja assim. Vemos coisas, sentimos coisas, vivemos e depois morremos. E com cada um morre algo de único e irrepetível. E são esses momentos entrelinhas, no entretanto, que se tornam mágicos. Aqueles momentos parvos e sem nada de grandioso em que tudo acontece e que tudo marcam. As pessoas perderam a capacidade de simplesmente estar, sem que nada mais seja preciso. Estar com o outro, apenas. Sem grandes acontecimentos ou planos. Just be.E são esses momentos que devem ser Replicants.

Boa semana !

4 comments:

Miss Vesper said...

just be. com todas as nuances. de singularidade irrepetivel mas a duplicar em momentos partilhados. a acompanhar apenas de um chá, uma foto do cume de uma falésia, shrimp and a piece of chocolat... ;)

after eight kisses
of a replicant

The White Scratcher said...

Gostava de conseguir perceber se vemos coisas, sentimos coisas, vivemos e depois morremos, ou se morremos por causa de vermos, sentirmos e vivermos coisas,,,,, as vezes fico confuso e pergunto-me: porque insistimos em querer sentir?

João Roque said...

O filme com mais "réplicas" que conheço; mas que vão dando consistência à história inicial.
Um filme fabuloso!

Tongzhi said...

O filme é muito bom e de facto vai para além de ficção. Há questões de reflexão muito consistentes.