Monday, March 3, 2008

Into the Wild

“I went to the woods because I wanted to live deliberately, I wanted to live deep and suck out all the marrow of life, To put to rout all that was not life and not when I had come to die discover that I had not lived.”

Henry David Thoreau


Durante os últimos quatro meses a minha vida profissional tem sido feita de palavras. São a minha ferramenta diária, o barro que moldo para tentar obter uma estátua tosca, imperfeitamente perfeita. É sempre uma tarefa incompleta e frustrante, tanto quanto é gratificante.
As palavras têm que sair a um ritmo doido e, por vezes, de forma mecânica. É uma técnica que se adquire, como outra qualquer. Mas não sem custos. A consequência negativa deste ritmo é a ausência de palavras para usar na vida pessoal. Quando volto para casa, perdem-se pelo caminho. Ou pelo menos, perdem a sua forma de expressão. Como numa tela de cinema mudo, onde tudo mexe mas nada se diz.


Circles they grow and they swallow people whole...

Há algumas semanas atrás, cruzei-me com Into de Wild, o novo filme de Sean Penn. Nesta tela, a história de Chris McCandless é contada através de imagens de uma viagem solitária. "Diálogos" de um para um, nos quais as palavras se encontram com o silêncio e existem apenas como parte do sangue que corre nas veias. Circulam pelo corpo sem necessidade de tradução, consequências do overload de emoções que o exterior provoca. Citações de Thoreau misturam-se com as palavras de Alex Supertramp (o alter-ego de Chris) e com as letras de Eddie Vedder, construindo a paisagem interior do filme. Palavras que existem como Chris existe na estrada, sozinho.

A mind full of questions, and a teacher in my soul

Deu todas as suas poupanças e partiu, rumo ao Alasca. Queria escrever a sua própria história e assim o fez: pela estrada alarga o círculo que o sufocava, retirando, camada após camada, aquilo que é falso. Aquilo que é mecânico. Aquilo que, por força do hábito e do ritmo louco, deixamos passar como verdadeiro. Tudo aquilo que Chris sempre viu à sua volta e queria desesperadamente evitar.

All my destinations will accept the one that's me / So I can breathe...

Aos 23 anos viveu uma vida inteira e, quero acreditar, cumpriu o seu destino em 2 anos de caminho. Tocou e foi tocado por seres humanos extraordinários, marcas da sua existência no planeta. Descobriu tarde demais a importância do outro nas nossas viagens solitárias, mas como ele próprio diz “ Se eu estivesse a sorrir e a correr para os teus braços, verias o que eu vejo agora?”.

Everyone I come across, in cages they bought / They think of me and my wandering, but I'm never what they thought / I've got my indignation, but I'm pure in all my thoughts/ I'm alive...

Seja na vastidão do Alasca ou no espaço exíguo de uma rua, defendo os momentos de solidão em que as palavras se perdem no vazio. Aqueles que são nossos e intransmissíveis, quando o mundo à volta nos sugou a energia para explicar seja o que for. Defendo o diálogo interior sem necessidade de eco, sem querer saber o que os outros acham. A necessidade de estar apenas em silêncio sem que o silêncio tenha que ter uma razão de ser, para além de simplesmente não conseguirmos falar. O encontro com aquela última camada que somos nós, o verdadeiro eu. Mas defendo também aqueles que simplesmente estão lá, mergulhados na sua própria viagem, mas de mãos dadas connosco. Aqueles que não pedem explicações para o que não pode ser explicado. Aqueles que fazem com que os momentos sejam verdadeiros. “Happiness is only real when shared”.

Não fujam dos murros no estômago, são eles que nos acordam. Evitem todas as jaulas, alarguem todos os círculos, conheçam todas regras mas não se deixem vergar por nenhuma. Não tenham medo da ausência de palavras só porque elas não conseguem ser ouvidas pelos outros. Não é uma ausência, é apenas um silêncio. E o silêncio é um nada que é tudo. É um eco de tambor que ressoa dentro de nós.

Viajem sem mapa, quem chegar ao Alasca primeiro acende a fogueira....

Wind in my hair, I feel part of everywhere /Leave it to me as I find a way to be / Consider me a satellite, forever orbiting / I knew all the rules, but the rules did not know me / Guaranteed



Boa semana para todos!
Sempre que as palavras voltarem, estarei aqui para as partilhar...


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4 comments:

Miss Vesper said...

That is no country for old men. The young
In one another's arms, birds in the trees--
Those dying generations -- at their song,
The salmon-falls, the mackerel-crowded seas,
Fish, flesh, or fowl, commend all summer long
Whatever is begotten, born, and dies.
Caught in that sensual music all neglect
Monuments of unageing intellect.
(...)
O sages standing in God's holy fire
As in the gold mosaic of a wall,
Come from the holy fire, perne in a gyre,
And be the singing-masters of my soul.
Consume my heart away; sick with desire
And fastened to a dying animal
It knows not what it is; and gather me
Into the artifice of eternity.
(...)"
Yeats

my words are not mine,
but incantation of sorts
of what is, feels, sees
can't translate emotion into paper court,
feel, hand i hand, that circle, the end of the day, devine hour
nip/tuck,
sparkle byt the watch tower...

after eight kisses
cris

Tongzhi said...

E nós cá estaremos para te ler com todo o prazer que sempre nos dá!
Bjs

João Roque said...

Gostei muito deste post: é positivo...
Beijoquitas.

Pedro Eleutério said...

O mundo é mesmo pequenino. Foi uma surpresa encontrar-te por estas bandas com a ajuda do pinguim. Sempre é mais uma forma de manter o contacto. Sempre vais ao jantar?

Um beijo grande