Sunday, September 28, 2008

Bolas de naftalina

Parecia saída de um guarda-fatos de Narnia, cheia de colares de pérolas, rendas pretas e casacos de peles. Aparecia sempre de surpresa, cansada e vagamente perdida no tempo, como se tivesse vindo numa perignação de doces e histórias tristes. Os doces vinham na mala preta de lantejoulas, reminiscente dos anos 20. As histórias, essas, vinham nos olhos azuis, líquidos e transparentes como água. Eram levemente cinzentos como um mar que já viu muitas tempestades.

Lembro-me de poucas coisas concretas a respeito dela mas é uma presença omnipresente nas minhas memórias de infância. Como um cheiro que nos remete para algo que vivemos, também ela era uma âncora que me ligava à pessoa que eu era. Não pela proximidade emocional mas pelo mecanismo de busca que activava no meu cérebro. 

Quando estas âncoras desaparecem será que perdemos um pouco dessa essência distante? Será que os fragmentos esfumaçados da nossa memória são suficientes para ainda lhe dar consistência?

Quando me lembro dela recupero memórias cuja existência eu desconhecia. Provavelmente estavam perdidas no mesmo guarda-fatos de onde ela saia e onde eu me escondia quando era pequena, para fugir da minha avó. Sentava-me no meio dos casacos e em cima das mantas e ali ficava, no escuro, à espera que me encontrassem.

Estas memórias deviam estar no bolso de um desses casacos. Agora que o voltei a usar, levei a mão ao bolso e encontrei-as. Como uma nota ou um bilhete antigo de cinema, já sem cor, que nos faz viajar para o passado.

Se calhar, há uma parte de nós que se torna inacessível à medida que vamos crescendo e só estas âncoras têm força suficiente para as manter à tona. Ou então, a pessoa que erámos nessa infância distante começa a assemelhar-se às imagens do Titanic no fundo do oceano: um pedaço de aço enferrujado a destilar memórias no silêncio líquido. Em toda a sua glória e beleza misteriosa, torna-se indestrutível. O preço que pagamos por esta sobrevivência teimosa é a distância. Da realidade e das âncoras que nos prendem ao solo.

Tuesday, September 16, 2008

I'm just drawn that way...






 Não fomos todos, apenas, desenhados assim?? Independentemente do que o "assim" seja...
Karma, DNA, condicionantes educacionais, chamem-lhe o que quiserem. Eu apenas fui desenhada assim...

Boa semana para todos

Friday, September 5, 2008

Tenha medo, tenha muito medo

Aproveitando o mote da 2ª edição do Motel Lx, festival de cinema de terror de Lisboa, não podia deixar de partilhar com vocês algumas regras básicas de sobrevivência. São alguns dos slogans do Motel Lx mas são também deduções que qualquer fã de filmes de terror já fez, ainda antes de sair do berço.
Acreditem que, quando estiverem num beco escuro, muitas delas serão preciosas...Seguindo a sugestão de um amigo meu, acho que deveriamos começar a distribuir panfletos com estas regras à porta das escolas primárias. A educação precoce é a melhor arma contra assassinos psicóticos.

1. Se a sua filha de 5 anos lhe falar em latim, não tente perceber, dispare. (ok, é um bocado exagerado. Neste caso, aconselho que prenda a criancinha dos infernos e passe directamente para a regra nr.3 . Pode ser igualmente eficaz e ainda damos o benefício da dúvida à míúda)

2.Desconfie de estranhos com joelhos que se dobram para trás quando andam e para os lados quando correm
(fazem-se excepções se o estranho em questão for contorcionista, aberração de circo ou se tiver seguido à risca a regra nr. 5)

3. Se o seu filho de 5 anos lhe falar com voz grossa, não tente perceber, chame um exorcista
(se não resultar e o miúdo começar a vomitar uma mistela verde, aconselho que volte à regra nr.1 . Better safe than sorry)

4. Não tome duche se estiver sozinho em casa. Lave-se por partes
(pode não ser muito higiénico mas aposto que a gaja do Psycho, dado o seu final trágico, não se teria importado em ter algum odor corporal...)

5.
Se a meio da noite ouvir barulhos estranhos na cozinha, não vá ver o que é, fuja pela janela do quarto (se viver num 7º andar, aconselhamos a que não salte. Foi esse o problema do gajo da regra nr2. Vá buscar a arma que usou para matar a criancinha dos infernos e vá direito à cozinha)

6. Se for lavar os dentes, não se olhe ao espelho. Melhor, não lave os dentes
(como para lavar os dentes não precisamos de nos olhar ao espelho, esta podem ignorar. Só não digam bloody mary 3 vezes perto do espelho e enquanto lavam os dentes)

7. Não dê boleia a homens com machados
(especialmente se tiverem um Smart. O homem e o machado não cabem lá dentro e depois é uma grande chatice se ele vos quiser matar. Não tem espaço para manobrar o machado)

8. Não compre bonecos que andem ou falem
(não interessa se se chamam Cindy ou Fluffy Bear. Vão acabar por se transformar no Chucky. São estes bonecos que dão origem às criancinhas das regras 1 e 3)

9. Não entre em cemitérios à noite e evite sotãos, caves, cabanas abandonadas e bosques
(estas explicam-se por si mesmas...quem é que quer fazer coisas destas?? Só mesmo alguém que nunca tenha visto filmes de terror)




Bom fim de semana!